terça-feira, abril 29, 2008

En La Ciudad de Sylvia - França/Espanha, José Luis Guerín (2007)

Vamos falar de cinema experimental. Embora o termo assuste ou denote algo chato, vale lembrar que os mais renomados diretores da história do cinema eram precursores do que hoje chamamos de experimental. Jean-Luc Godard, Federico Fellini e nosso Glauber Rocha são exemplos de tudo o que não siginifica a palavra clichê. Protagonistas em terceiro plano, cenas com até quatro minutos de duração de uma câmera imóvel, ausência de diálogos, a interligação de personagens e locações, a sincronia das sequências e o próprio timeline da pelícua sugere o experimento do que é considerado anormal. In The City of Sylvia (En La Ciudad de Sylvia) traz tudo isso e mais: a certeza de prender o público até o último minuto, mesmo que o final seja ou não um... final! O professor de cinema e diretor José Luis Guerín usa e abusa da possibilidade de fascinar através dessa esquisita maneira de filmar, entretem através de um quebra-cabeças e para não cometer o erro de entediar, usa como subterfúgio, elementos atrativos tais quais belos atores, cenário contemporâneo e personagens irônicos. Dispa-se do rotineiro! Experimente En La Ciudad de Sylvia.

A noite de domingo no Kabuki teve um opening especial: a presença de um dos grandes críticos mundiais de cinema e professor novaiorquino Jim Hoberman. Jim completa 30 anos na posição de crítico senior do jornal The Village Voice e recebeu nesta noite o cobiçado prêmio Mel Novikoff. Em seguida, foi entrevistado pelo comentarista cinematográfico Kent Jones, para após, oficialmente, apresentar o filme acima.

From Kabuki Theatre, Japantown
San Francisco, CA
SFIFF 51

segunda-feira, abril 28, 2008

Mataharis - Espanha, Icíar Bollaín (2007)

Pegue um Charlie's Angels e tire todas as cenas de perseguições, artes marciais, espionagem de alta tecnologia, explosões e tiros. O que você tem agora? Nada? Olhando com mais atenção, vai descobrir que o espião, o mocinho e o bandido do filme tem uma vida familiar e sentimental, tem emoções, cometem erros e acertos. Ok, temos então a fórmula do quarto filme da diretora espanhola Icíar Bollaín. O longa trata de um momento na vida de um grupo de três investigadoras profissionais que trabalham para a mesma empresa e que através de sua feminina, sutil e sedutora maneira de espionar vidas, fazem alusão as mesmas características da famosa espiã dos Países Baixos, Mata Hari (1876-1917).
Família, animais de estimação, paixão, desafeto são alguns dos temas em que o filme intenciona mostrar na vida das três personagens, ao invés dos clichês Hollywoodianos do mesmo gênero. Seria o negativo, o inverso, e não uma versão latina de As Panteras.
O fato de Icíar Bollaín ter desenvolvido uma carreira de atriz antes de resolver dirigir, parece ter cooperado em muito com o cast fantástico do filme e todas suas sequências. Esqueça as canetas que atiram, os isqueiros lasers, os carros que voam e entregue-se a delicadeza traiçoeira, porém vulnerável de Mataharis.

PS: Como a sessão só começava em algumas horas, o negócio foi aproveitar o tal prato servido na sala de imprensa: Baja Shrimp Ceviche com Hawaiian Poke Tuna, acompanhado de um excelente vinho francês. Puta vida dura...


From Kabuki Theatre, Japantown
San Francisco, CA
SFIFF 51

domingo, abril 27, 2008

FLOW: For Love of Water - USA, Irena Salina (2007)

Ainda que não tenha vindo para assistir especificamente o filme da francesa Irena Salina, acabei ficando, acabei de queixo caído.
Na onda dos documentários mundiais que caem de sola sobre agressores da natureza, FLOW: For Love of Water trata de uma questão pouco considerada num mundo onde só olhamos para o próprio sapato.
O primeiro frame da película não é a imagem da natureza frágil, de alguém lavando a calçada com sua mangueira desperdiçadora ou coisa assim, mas de um simples e esquecido fato:
"No mundo, milhares vivem sem amor, porem ninguem sem agua."
O preâmbulo acima resume e prepara o público ao tema a seguir. Enquanto bilhões de dólares são torrados em guerras nonsense por petróleo, nossa água potável vai desaparecendo nos bolsos das empresas multinacionais engarrafadoras e vai adoecendo o povo que dela se beneficia pelo alto grau de contaminação por pesticidas e detritos das grandes industrias. O filme trata a questão com sutileza. É preciso tomar conhecimento de como nossa água é subtraída ou deteriorada, informação oculta para a grande população das cidades, onde temos o prazer de pagar dois dólares por uma garrafinha gelada com aqueles rótulos lindos, mas do que a rigor, ja era nosso por direito. E o pior, deliciar-se do que de fato, não encontra-se no conteúdo do vasilhame.
Saio da sala de exibição sem coragem de beber nada produzido pela beverage industry para não me sentir conivente com o que uma Coca-Cola, Nestle ou Pepsi andam fazendo pelo globo à fora. Água da bica é mais, no momento. Vista-se de consciencia assistindo ao documentário FLOW, visite o website, una-se a uma das ONGs que tratam do assunto e lute hoje para nao sentir sede amanhã.
From Kabuki Theatre, Japantown
San Francisco, CA
SFIFF 51