terça-feira, setembro 25, 2007

Vale a compilação

Esta semana assisti ao Tropa de Elite. Gostei do filme, cine-tecnicamente falando. Havia gostado do Bus 174. Contudo, alguma coisa me engasgou sobre o roteiro, sobre a história e tal. Ao ler a resenha do Cogumelos Incógnitos, revelei esse sentimento embassado:

Na escala de valores invertidos de Tropa de Elite, pasme, fumar maconha é muito pior do que assassinato a sangue frio, tortura e execução à queima-roupa, por exemplo. A mensagem alarmante do filme não é outra senão a seguinte: parem de fumar maconha que os problemas de segurança do Rio de Janeiro se resolverão, como num passe de mágica.
Não há quem não saia do cinema morrendo de pena dos abnegados policiais, coitadinhos, que se sacrificam todos os dias para assegurar que uma cambada de viciados possa saciar a sua fissura.
É escandaloso e indecente que tenha sido financiado com dinheiro público um filme feito, adrede, para enaltecer uma corporação fascista de assassinos criteriosamente forjados, um aparelho repressivo de extrema direita, uma espécie de Gestapo tupiniquim. O sr. Wagner Moura não teve nenhum pudor em desempenhar (brilhantemente como sempre) um papel que glamouriza a imagem de um perigoso psicopata fundamentalista. Deve tê-lo feito por afinidade ideológica, já que, de dinheiro, é notório que ele não deve estar precisando a este ponto e prestígio como ator, já possui o suficiente.
A jogada de mestre da direção é justamente a utilização criminosa do carisma e do talento (indubitável) de um ator em evidência, para conferir credibilidade e humanidade a um personagem de índole incontestavelmente doentia e perversa, imoral e repulsiva.
Ao cabo, José Padilha atinge o seu objetivo: a glorificação apoteótica de um grupo de extermínio oficial e a promoção do ideário truculento e discriminatório da direita raivosa. Desta forma, muito em breve, estará na TV. O Bope é pop. O Bope dá Ibope.
Fica demonstrado que o Brasil não precisa de nenhuma tropa e sim, de uma troca de elite, esta casta suprema que abarca não apenas políticos e ricos em geral, mas, sobretudo, a intelectualidade da nação: jornalistas, cineastas, escritores, poetas, músicos, filósofos, acadêmicos. É indecorosa a omissão dos nossos intelectuais. Denota conivência ou, no mínimo, complacência com os poderosos que fomentam iniqüidades, consumando a tragédia de todo um povo.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

tens alguma razão, porém nossa sociedade hipócrita com seu vício nas horas sociais não reconhece ser parte do problema. E reclama muito quando a niemeyer fica fechada pelos tiros pagos com seu próprio dinheirinho.tens que estar aqui pra saber da real. todo dia.

4:30 PM  

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